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Trólebus & Veículos Elétricos Brasileiros:
Artigos & Entrevistas - Entrevista Ayrton Camargo e Siva 02/07/2021


 

Iniciando nossas entrevistas do mês de julho de 2.021 temos a honra de conversar com Ayrton Camargo e Silva, atual presidente da EMDEC - Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas.

Ayrton Camargo e Silva é Arquiteto Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC/Campinas, com Especialização em Desenvolvimento e Gestão do Território Municipal, e Mestre em Urbanismo.

Entre os anos de 2.001 a 2.004 foi Diretor de Planejamento da EMDEC, de Campinas, quando coordenou o projeto do sistema estrutural de transporte, o sistema de geoprocessamento, o projeto funcional do Terminal Rodoferroviário, do programa Memória do Transporte Urbano e coordenou a reformulação do programa de educação e segurança do trânsito.

Traz em seu currículo também carreiras desenvolvidas no sistema metroferroviário: na CPTM exerceu o cargo de Gerente de Projeto Funcional; no Metrô de São Paulo foi Assessor da Diretoria de Engenharia, com foco no Programa de Inovação da Empresa; na EFCJ exerceu o cargo de Diretor-presidente da ferrovia entre 2.012 e 2.018.

 

Autor do livro "Tudo é Passageiro", atuou também como Secretário Executivo da ANTP/SP de 1.992 a 2.001, coordenou o Programa ANTP Cultural, editou livros e informativos, e atualmente é membro do Conselho Editorial da Revista dos Transportes Públicos da ANTP.

Confira mais detalhes abaixo:

​​TB: Na sua opinião o trólebus perderá espaço frente à evolução do ônibus elétrico a baterias?

AC: Sim, é uma tendência, apesar do custo da tecnologia dos ônibus a bateria ainda ser muito alto. Porém à medida que se aumenta a procura e a escala de produção o custo desta tecnologia tende a cair. Atrelado a isto podemos citar a evolução dos componentes, como por exemplo a redução do peso das baterias, resultando numa maior autonomia do veículo, menor desgaste dos pneus, enfim, é preciso melhorar seu custo, sua autonomia e sua durabilidade.

 

TB: O trólebus possui um custo de implantação alto por conta da instalação da rede aérea. Mesmo assim é vantajoso sobre o ônibus a bateria?

 

AC: Esta vantagem é relativa, depende de diversos fatores, como por exemplo o tamanho (extensão) das linhas, eventuais custos com desapropriação, transposição ou canalização de córregos ou rios, como também dos recursos naturais ou fontes de energia existentes no local ou próximos a ele: supondo uma fonte de gás natural nas proximidades aí se torna mais vantajosa a adoção da tecnologia GNV por exemplo, se sobrepondo aos trólebus ou ônibus a bateria nesta situação hipotética.

TB: A indústria brasileira de trólebus acompanhou a evolução mundial deste meio de transporte?

 

AC: Sim, com certeza. Apesar das dificuldades e da demora em se trazer ou adaptar novas tecnologias em solo brasileiro podemos citar por exemplo a adoção do motor de tração de corrente alternada (redução de partes móveis, manutenção e custo), além da rede aérea flexível (menor probabilidade de escape das alavancas durante a operação).

TB: Em sua opinião o trólebus será mais bem aproveitado no futuro? 

 

AC: Na verdade deve-se buscar um sistema de transporte cada vez mais limpo, não importando a tecnologia adotada, logicamente aliando-se ao menor custo dentro do possível. As grandes cidades sofrem muito com a alta da poluição. Como consequência ocorre um aumento na ocorrência de doenças respiratórias, gerando-se mais custos com tratamentos e hospitais, isso sem falar na degradação ambiental e desvalorização de áreas afetadas pela poluição sonora ou ambiental.

Deve-se analisar o seguinte: se um sistema de trólebus for implantado do início, com instalação de rede aérea e subestações, seu custo inicial torna-se muito alto, sendo mais vantajosa a utilização de outras tecnologias. Porém, se compararmos essa tecnologia do trólebus já instalada, como por exemplo a existente na cidade de São Paulo, sua operação torna-se mais vantajosa frente a outras, como por exemplo o ônibus a etanol ou o elétrico à bateria.

Para exemplificar: o hidrogênio é o combustível mais limpo que existe, seu resíduo é a água, porém o custo de produção do hidrogênio é bastante elevado, o que inviabiliza a tecnologia neste momento.

O desafio é tornar a tecnologia competitiva do ponto de vista econômico-financeiro.

 

TB: Incentivos na tarifa de energia poderiam ressuscitar o trólebus, como ocorrido no início da década de 1.980?

 

AC: Temos que olhar o sistema como um todo. Reduzir apenas o custo da energia elétrica não resolve o problema, pois  este é apenas um dos diversos fatores a ser analisado.

Por exemplo:

- o custo de um veículo trólebus é maior do que o de um ônibus convencional: seriam necessárias linhas de financiamento de crédito atraentes, como no passado;

- custo para a construção de uma pavimentação de qualidade para a operação dos veículos;

- custo de implantação da fiação elétrica.

Ou seja, diversos fatores teriam que sofrer incentivos para uma maior atratividade do trólebus frente a outras tecnologias.

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Ayrton Camargo e Silva

(Foto: https://www.campinas.sp.gov.br/governo/equipe-de-governo.php)

TB: Em primeiro lugar poderia nos apresentar um breve relato de sua experiência profissional com os trólebus no Brasil?

AC: Na década de 1.990 exerci o cargo de Presidente da Comissão de Trólebus da ANTP de São Paulo/SP, onde conquistamos por exemplo, a conclusão da eletrificação do corredor ABD Paulista; atuamos junto ao BNDES para a criação de linhas de financiamento de crédito para a aquisição de veículos trólebus, com prazos mais longos de amortização e carência, além de taxas de juros mais atrativas. Podemos citar também a exigência de reforma da frota remanescente da CMTC de São Paulo após a privatização de suas linhas de trólebus, além da compra de 37 novos trólebus por cada uma das três empresas que assumiram tais linhas à época.

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Folheto da década de 1.990, elaborado pelo Comitê de Trólebus da ANTP, presidido por Ayrton Camargo e Silva à época

(Cópia gentilmente cedida pela Biblioteca da Companhia do Metropolitano de São Paulo/METRÔ SP)

Clique na imagem acima para visualizar o folheto em pdf

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Capa do livro "Tudo é Passageiro", de autoria de Ayrton Camargo e Silva

Com 164 páginas e apresentando imagens históricas, a obra revela a trajetória dos bondes como sistema estruturador do transporte público durante o impressionante crescimento de São Paulo na primeira metade do Século XX e alinha os fatores que levaram à sua extinção na cidade no ano de 1.968

(Foto: internet)

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