Trólebus & Ônibus Elétricos Brasileiros
> Entrevista Rodrigo Lopes 04-11-2021
Hoje em nossa entrevista conversamos com Rodrigo Lopes, integrante do Movimento Respira São Paulo onde exerce as funções de Relações Públicas, Projetos e Divulgação. Atua também nas áreas de Marketing Digital e Videomaker, Consultor de Mobilidade Urbana e Transportes e em Políticas Públicas de Transporte.
Confira mais detalhes da entrevista abaixo:
Rodrigo Lopes
(Acervo Pessoal)
TB: Rodrigo primeiramente faça sua apresentação e na sequência nos diga como surgiu esse interesse pelos trólebus.
Tudo bem Marco, antes de tudo quero agradecer imensamente pela alegria em estar contigo nessa entrevista. São difíceis hoje os amigos de causa que defendem o transporte elétrico e especialmente os Trólebus. Ainda mais voltados a história como você tem tanta força.
Tenho 29 anos, sou Tecnólogo em Transporte Terrestre. Desde que me entendo por gente, gosto de transporte. Em especial o transporte urbano. Morava numa Avenida próxima a Paulista em São Paulo e com poucos anos de idade em fase de alfabetização, lia os letreiros e conseguia identificar qual ônibus era simplesmente pelo som do motor enquanto subiam a Avenida. Conheci os trens, em especial os de Longo Percurso. Também o Metrô e a paixão foi só aumentando.
Por sempre ser curioso, pedia a familiares para me levar simplesmente para andar de ônibus por aí. Até que certa vez, próximo ao Parque da Aclimação, vi um trólebus pela primeira vez. Era um Torino recentemente reencarroçado funcionando pela 4113. Achei curioso por conta das "antenas" e dali, comecei a gostar desde o momento que pisei em um.
Anos depois, quando já morava no bairro da Aclimação, eu estudava em um colégio onde tinha que usar trólebus no caminho de casa pra lá, sendo então solidificado esse gosto de forma permanente. Passando a estudar e entender como funciona e pensar em "como seria" algumas linhas com esse sistema. Inclusive, consegui conhecer boa parte das linhas operantes em São Paulo antes da desativação em massa, por ter começado a estudar a tempo.
TB: Você atua também junto à preservação da EF Perus Pirapora. Conta pra gente um pouquinho desse trabalho.
RL: Na Perus-Pirapora foi algo semelhante a quando comecei a estudar os Trólebus. Por também gostar de trens e de sua história, também fazia percursos aos finais de semana para conhecer. Num desses passeios, observei uma fábrica abandonada na lateral da estação Perus e um trilho que acompanhava essa estrutura. A partir dali, comecei a pesquisar sobre a Perus e senti uma estranha conexão com o lugar.
Anos depois, já na Faculdade, um colega de sala visitou a ferrovia e postou fotos. Foi o estopim para eu querer ir conhecer. No primeiro momento que pisei no Pátio do Corredor, onde nossas operações são centralizadas, procurei à época a direção do Instituto e demonstrei minha vontade de fazer parte do trabalho.
Desde então, comecei a fazer parte da Ferrovia e de onde até hoje, já são 6 anos, não saí e não quero sair nunca mais. O lugar se tornou uma extensão da minha vida e representa muito meu amor por preservação dos transportes.
Comecei na ferrovia como um estagiário voltado a manutenção da via permanente. Passando sequencialmente para o responsável técnico até enfim, já formado, ser o profissional que desenvolve todos os projetos relacionados a Via Permanente.
Além disso, desde o início desse ano, assumi também de forma definitiva a gestão de Marketing e Mídias Digitais da Ferrovia, cuidando de Instagram, Facebook e YouTube, estabelecendo enfim uma marca forte e um branding bem estruturado para a ferrovia. Por sinal, convido a curtirem e acompanharem tudo, através do endereço @ferroviapark nas redes citadas.
TB: Como você avalia o futuro do trólebus na cidade de São Paulo?
RL: O futuro dos trólebus na Cidade de São Paulo é algo que honestamente me preocupa. Excetuando o momento da renovação veicular que ocorreu em meados de 2012 e 2014, vejo o sistema como algo que está em risco desde a devastação que os elétricos sofreram em 2004 por conta de uma temerosa e excêntrica administração pública à época.
Atualmente, com todos os veículos modernos e acessíveis, somados a uma rede aérea modernizada, fico tranquilo em pensar que funciona a contento. Porém, aquém do que poderia ser, inclusive, com uma rede muito pequena do que poderia ser (ou do que já foi).
Mas assim como na primeira década de 2000, passo a me preocupar com a próxima renovação que se aproxima, pois os trólebus voltam a ser assombrados por inovações tecnológicas (boas, mas incipientes e ainda bastante cruas), que encantam os gestores públicos. À exemplo do que foram os veículos híbridos que sucederam os Mafersa e Neobus no corredor Santo Amaro, no sentido de que substituem a tecnologia por uma nova, não dá certo e tudo cai no velho diesel, como ocorreu no próprio corredor Santo Amaro.
Não sou contra de forma alguma aos veículos à bateria, pelo contrário. Mas creio numa sinergia entre os trólebus e eles, colaborando juntos para um transporte limpo e que atendesse a cidade em mais extensão, deixando os corredores e linhas estruturais com os trólebus e as linhas de bairro e alimentação, para os veículos a bateria.
Mas estamos muito longe disso. Mesmo depois da lei de mudanças climáticas promulgada em 2019 ao qual trabalhamos firmemente para contemplar os trólebus.
TB: Pra finalizar como você entrou no Movimento Respira São Paulo? Como é sua atuação no grupo? Descreva algumas situações inusitadas e desafios que já passou com os colegas do RSP.
RL: Eu comecei no Movimento Respira São Paulo entre os anos de 2007 e 2009, não lembro exatamente ao certo. (Não era nem maior de idade ainda hahahahah). Minha mãe me acompanhava nos passeios, inclusive no épico de 60 anos do sistema, onde percorremos a cidade com um desfile reunindo o então novo trólebus da Caio, pertencente a Metra/ Eletra, o preservado 7213 e o mítico 8000 que hoje encontra-se restaurado.
São algumas histórias legais envolvendo essa paixão por trólebus e o Respira, mas sendo bem exato, o momento de passar quase 12 horas dentro de um veículo andando a cidade toda, aliado ao fato de que tivemos que empurrar um deles no final de uma subida, são insuperáveis.
Mas uma que também guardo com muito carinho, foi quando participei ativamente dos estudos e trabalhos pelo PL300 que resultou na renovação de lei de mudanças climáticas em SP, onde estabelecemos com muita força, uma defesa de que a emissão de poluentes fosse reduzida na capital em um período de até 30 anos, prevendo a redução do uso de combustíveis fósseis como matriz energética.
Minha atuação no Movimento começou como um colaborador voluntário, que participava com muito empenho nas reuniões que aconteciam.
Posteriormente, fui eleito vice-presidente do Movimento e em algumas ocasiões a própria Presidência no ano de 2012 enquanto o Norberto, titular, estava em viagem, sempre com orientações do Jorge quanto as reuniões e ações do movimento.
Em audiência pública ocorrida no dia 11/09/2017 foi discutido em reunião da Comissão de Constituição e Justiça na Câmara Municipal de São Paulo, presidida pelo Vereador Caio Miranda, a "Agenda 2030" e o Projeto de Lei 405.
Esse Projeto estabelece um cronograma para a redução da emissão de poluentes na cidade de São Paulo, voltado para a frota pública, ônibus municipais, caminhões de lixo e veículos oficiais.
O Movimento Respira São Paulo, representado por Rodrigo Lopes, esteve presente na Mesa Diretora juntamente com outras entidades, defendendo que as matrizes energéticas devem buscar o caminho da "menor poluição possível", priorizando sempre o transporte elétrico.
(https://www.facebook.com/mrespirasp/videos/respira-s%C3%A3o-paulo-part
icipa%C3%A7%C3%A3o-pl405-vereador-caio-miranda-/1956308744583250)
Em 2017 quando começaram as movimentações da PL300, junto com o Norberto e o Jorge, trabalhei intensamente na visita a inúmeros gabinetes de Vereadores em São Paulo, passando a ir pelo menos 3 vezes por semana a reuniões buscando apoio e conversas com os autores do novo PL para incluírem os trólebus e acharem as melhores soluções para a cidade como um todo e claro, priorizando em nossa visão, o transporte elétrico.
Em visitas muitas vezes solitárias sem o Jorge e Norberto, fomos à audiências públicas e nos reunimos com outras associações e ONG's que também atuavam no front, buscando agregar o momento de força e representatividade que o Movimento teve nessa época.
Atualmente, ajudo com alguns projetos voltados a preservação de veículos trólebus e também, na pesquisa e monitoramento de relações institucionais voltados a mobilidade urbana municipal, sempre de olho que possa ajudar o sistema e por ventura, prejudicar os Trólebus.
Assim, da nossa maneira e de luta incansável, mantemos com força nossos ideais para manter a memória e o futuro do sistema vivos, pois hoje, ele já é o presente (em todos os sentidos) para a cidade como um sistema eficiente e com melhor custo benefício de operação na cidade.