
Coluna FALA GALESI !!!

Espaço dedicado ao jornalista e especialista em transportes Marcos Galesi.
Confira aqui seus artigos em defesa do Trólebus Brasileiro.
QUEM AGRIDE UM TRABALHADOR, AGRIDE A PRÓPRIA CIDADE
09/07/2025
Não se bate na cara de um homem.
Muito menos na cara de um trabalhador.
A agressão física é só a ponta do iceberg. O que se esconde embaixo é mais profundo: a desvalorização crônica de quem move a cidade, sustenta a rotina e faz a engrenagem do cotidiano funcionar. O trabalhador do transporte — seja motorista, cobrador, agente, fiscal, metroviário ou ferroviário — já enfrenta um campo de batalha todos os dias. E não estou falando da violência explícita apenas. Estou falando da invisibilidade, do desprezo institucional, da solidão profissional.
O sujeito acorda antes do sol nascer. Enfrenta pressão de todos os lados — da empresa, dos usuários, do trânsito, do relógio, da própria consciência. Trabalha com gente, para gente, e muitas vezes é tratado como se não fosse gente. E quando o sistema falha — porque o sistema falha, todos sabemos — sobra pra ele. É ele quem leva a culpa, é ele quem leva a bronca, é ele quem leva o tapa. Ou o soco. Ou o xingamento.
E agora, nem os ônibus escapam.
Nos últimos meses, mais de 500 veículos foram apedrejados só na capital. Vidros quebrados, passageiros em pânico, motoristas sob risco constante. O transporte virou alvo fácil para quem quer descontar sua fúria sem rosto e sem consequência.
Mas vandalismo não é revolta.
É covardia.
É ignorância travestida de fúria.
É um tiro no próprio pé — porque quem quebra o ônibus, quebra o que é de todos.
Quando um profissional do transporte é agredido, não é só ele que apanha — é a dignidade de toda uma categoria. Quando um ônibus é vandalizado, não é só o vidro que estilhaça — é a confiança da população que se parte. É o serviço público que enfraquece.
E onde estão as autoridades nessas horas?
Onde estão os gestores, que cobram produtividade mas não oferecem segurança?
Onde estão as empresas, que exigem metas mas não garantem respaldo?
E onde está o poder público, que fiscaliza o trabalhador mas não fiscaliza os agressores?
Esse silêncio é cúmplice. Essa omissão é covarde.
E quem aceita isso com naturalidade está, no mínimo, anestesiado.
Sou filho do povo, sou filho de trabalhador. Cresci vendo o esforço de quem vive do próprio suor, e isso me ensinou a nunca aceitar que a injustiça vire paisagem. Me recuso a fingir que isso é “parte do jogo”. Me recuso a engolir o desrespeito como se fosse rotina.
Um país que não protege quem trabalha é um país sem rumo.
Uma cidade que não respeita quem a move é uma cidade doente.
E um sistema que ignora as agressões contra seus próprios servidores… está fadado à falência moral.
O transporte é o coração das cidades.
Mas quem o faz pulsar são os trabalhadores.
E quem bate neles… está, no fundo, batendo na esperança de todos nós.
* * * *
Por Que Manter o Sistema de Trólebus em São Paulo é uma Decisão Inteligente, Sustentável e Necessária
02/07/2025
Ao longo das décadas, São Paulo desenvolveu um dos mais sólidos sistemas de trólebus da América Latina, símbolo de mobilidade limpa, silenciosa e sustentável. Entretanto é preocupante perceber que em pleno século XXI ainda existem setores do poder público que demonstram resistência em manter e expandir este modal tão eficiente e necessário.
Este artigo tem como objetivo apresentar, de maneira clara e fundamentada, as razões pelas quais abandonar o trólebus seria um erro histórico, econômico, social, ambiental e político. Ao contrário, manter e modernizar esse sistema é uma decisão inteligente, alinhada às melhores práticas globais, às metas climáticas e às necessidades de São Paulo como cidade do futuro.
🚎 Trólebus Não é do Passado. É do Futuro.
- Quando o assunto é transporte sustentável, o trólebus se destaca por características que nenhum outro modal urbano oferece de maneira tão equilibrada:
> Zero emissão local de poluentes;
> Operação silenciosa, contribuindo para a redução da poluição sonora;
> Elevada vida útil dos veículos - superior à dos ônibus a diesel ou até dos elétricos 100% a bateria;
> Energia limpa e renovável, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis;
> Baixíssimo custo de manutenção da motorização elétrica.
A tecnologia evoluiu. Os trólebus modernos contam com baterias embarcadas, que lhes garantem autonomia fora da rede elétrica permitindo operar em trechos sem fios e oferecendo maior flexibilidade operacional. Ou seja, o trólebus do século XXI é um veículo híbrido, combinando o melhor da tração elétrica com liberdade operacional.
🌍 Compromissos Ambientais que o Poder Público Não Pode Ignorar:
- São Paulo é signatária de importantes acordos ambientais e de metas climáticas internacionais, como:
> Acordo de Paris;
> C40 Cities - Rede de Megacidades pela Sustentabilidade;
> Plano de Ação Climática da cidade de São Paulo (PlanClima);
> Lei Municipal nº 16.802/2018, que estabelece metas claras para redução de emissões no transporte coletivo.
Desativar o sistema de trólebus seria uma afronta direta a esses compromissos, gerando não só desgaste político, mas também risco de questionamentos jurídicos, sanções e perda de credibilidade nacional e internacional.
🏛️ O Papel do Poder Público: Vontade Política e Visão de Futuro:
- Quando o poder público demonstra resistência em manter o sistema de trólebus, é necessário relembrar que essa não é uma decisão de gosto pessoal ou preferência administrativa. Trata-se de uma política pública de interesse coletivo, alinhada a princípios constitucionais, como:
> O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado;
> O dever do Estado de promover transporte urbano sustentável;
> A proteção da saúde pública, impactada diretamente pela poluição atmosférica e sonora.
Negar o trólebus é negar a própria política de descarbonização da cidade.
📊 Os Dados Falam Mais Alto:
- Levantamentos técnicos demonstram que:
> O custo operacional do trólebus, ao longo da vida útil, é inferior ao de ônibus a diesel;
> A economia em manutenção do sistema elétrico é significativa;
> Cada trólebus em operação retira toneladas de CO₂ e outros poluentes da atmosfera por ano;
> A poluição sonora, que adoece milhares de pessoas nas grandes cidades, é drasticamente reduzida nas linhas operadas por trólebus.
💰 Financiamento Existe. Falta Vontade.
- Recursos financeiros para modernizar e expandir o sistema estão disponíveis em:
> BNDES – Fundo Clima;
> Banco Mundial;
> Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID);
> Fundos internacionais de cidades sustentáveis;
> Compensações ambientais de grandes empresas.
Manter o trólebus não é um problema de dinheiro. É uma questão de decisão política.
🌟 Oportunidade de Legado.
- Transformar São Paulo em referência de transporte elétrico não é apenas uma possibilidade, é uma necessidade. E isso pode ser construído com projetos como:
> Corredores Verdes 100% elétricos;
> Modernização da frota com veículos silenciosos e autônomos;
> Integração inteligente entre trólebus, ônibus elétricos, VLTs e outros modais.
Prefeitos, secretários e gestores que abraçarem essa causa deixarão um legado de inovação, sustentabilidade e responsabilidade social para as próximas gerações.
🚦 Conclusão: Abandonar o Trólebus é Andar na Contramão do Futuro
- Desmontar um sistema elétrico consolidado, eficiente e sustentável seria um erro com consequências ambientais, sociais e políticas irreversíveis;
- Por outro lado, investir no trólebus significa:
> Reduzir poluição;
> Melhorar a saúde pública;
> Cumprir os compromissos climáticos;
> Gerar economia operacional;
> Oferecer um transporte mais silencioso, confortável e eficiente à população.
O trólebus não é coisa do passado. É símbolo de futuro, de compromisso ambiental, de cidade inteligente e de responsabilidade social.
Que o poder público compreenda: manter o trólebus não é uma opção. É uma obrigação com a cidade, com o planeta e com as futuras gerações.
* * * *
O Trólebus em São Paulo: Sustentabilidade Ignorada na Maior Metrópole do Brasil
24/06/2025
Em um mundo que corre contra o tempo para frear os impactos das mudanças climáticas, repensar os meios de transporte deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade urgente. No entanto, na maior cidade da América Latina, o sistema de trólebus - transporte coletivo 100% elétrico, isento de poluentes locais e silencioso - é, há décadas, vítima de uma política de abandono, descaso e desinformação.
Enquanto cidades na Europa, Ásia e América Latina modernizam e expandem suas redes de trólebus, São Paulo parece remar na contramão da história. O que deveria ser motivo de orgulho e exemplo de transporte sustentável tornou-se, na visão popular, sinônimo de problemas. Não por culpa do modal, mas sim pela negligência histórica dos sucessivos gestores públicos.
📉 A Visão Popular: Rede Que Cai, Sistema Quebrado e Falta de Manutenção
Quem anda pelas regiões atendidas pelo trólebus em São Paulo já ouviu - ou até disse - frases como:
“A rede caiu de novo.”
“O trólebus travou tudo.”
“Quando quebra, atrapalha a avenida inteira.”
E não é difícil entender o porquê: a rede aérea que alimenta os trólebus sofre há décadas com falta de manutenção preventiva. O desgaste dos suspensórios (cabos que sustentam a rede), cruzamentos de fios danificados e peças que deveriam ter sido substituídas há anos tornam as panes e quedas de rede recorrentes. Esses episódios geram uma percepção distorcida na sociedade, que associa o problema ao veículo, quando, na verdade, o problema está na gestão da infraestrutura.
🚧 Sucateamento Não é Acaso. É Escolha.
O abandono do sistema de trólebus não é fruto do acaso, mas de uma série de decisões políticas e administrativas tomadas ao longo dos anos. Entre as décadas de 1980 e 2000, várias linhas foram desativadas, e a malha de trólebus - que já foi muito mais extensa, chegando a bairros distantes - hoje sobrevive restrita a alguns corredores.
Enquanto isso, cidades como Quito (Equador), Milão (Itália), Zurique (Suíça), Lyon (França) e Vancouver (Canadá) investem pesado em redes modernas de trólebus, com fiação inteligente, veículos de última geração com baterias para operação híbrida (em trechos sem rede) e sistemas integrados de mobilidade elétrica.
🌍 O Mundo Avança. São Paulo Regride.
O contraste é gritante. Milão, por exemplo, não só manteve, como modernizou seu sistema de trólebus, utilizando veículos articulados, silenciosos, com ar-condicionado, acessibilidade total e design moderno. Zurique opera trólebus com baterias de longa duração, que conseguem circular quilômetros sem contato com a rede aérea, garantindo flexibilidade e menos interferências no espaço urbano.
E em São Paulo? A frota de trólebus, embora moderna nos veículos, circula sob uma rede aérea que, em muitos trechos, não recebeu os investimentos necessários para acompanhar a evolução. Resultado: quedas de rede, interrupções constantes e uma falsa percepção de que o trólebus “não funciona mais”.
💡 Por Que Desprezar um Transporte Limpo, Eficiente e Silencioso?
É uma pergunta que não quer calar:
Por que São Paulo, uma cidade que se diz preocupada com sustentabilidade, permite o sucateamento de um dos meios de transporte mais ecológicos que possui?
Não há resposta técnica que justifique. O trólebus não polui, não gera ruído, tem eficiência energética superior ao ônibus diesel, elétrico puro ou a gás e oferece uma operação suave, confortável e de baixíssimo custo ambiental.
Se falta visão, sobra exemplo mundo afora. Bogotá, na Colômbia, estuda a reintrodução de trólebus. Guadalajara, no México, manteve sua rede. Praga, na República Tcheca, voltou a instalar fiação e expandir linhas. A União Europeia incentiva financeiramente projetos de eletrificação do transporte - e o trólebus faz parte desse pacote.
🔥 Desinformação: O Maior Inimigo do Trólebus
A desinformação também é um dos maiores inimigos desse modal. Quando a rede cai, culpa-se o trólebus, não quem deveria mantê-la. Quando um ônibus diesel quebra no meio da avenida, é visto como uma falha isolada. Quando é um trólebus, vira argumento contra toda a tecnologia. Isso é fruto de décadas de negligência no debate público sobre transporte sustentável.
🚀 Tecnologia Existe. Falta Vontade Política.
Hoje, há tecnologia para que os trólebus operem com mais eficiência e até com menos dependência da rede aérea contínua. Veículos com baterias podem rodar longos trechos sem contato com os fios, permitindo ampliar linhas e reduzir interferências urbanas. Além disso, redes aéreas modernas possuem sistemas de tensionamento automático, cruzamentos inteligentes e materiais mais leves e duráveis.
São Paulo, que se orgulha de ter o maior sistema de ônibus elétricos do Hemisfério Sul, deveria liderar esse processo. Mas, em vez disso, convive com debates sobre desativação de linhas, fechamento de redes e priorização de modais que, embora mais modernos na aparência, continuam a queimar combustível fóssil.
📢 Conclusão: O Futuro Precisa Ser Eletrificado - e o Trólebus Faz Parte Dele
O caminho para cidades mais limpas, eficientes e sustentáveis passa, necessariamente, pela eletrificação do transporte público. E o trólebus é parte fundamental desse futuro.
Manter, modernizar e expandir esse sistema não é apenas uma questão de mobilidade, mas um compromisso com o meio ambiente, a saúde pública e a qualidade de vida.
Desprezar o trólebus não é apenas um erro técnico. É uma escolha que contraria tudo o que se prega sobre desenvolvimento sustentável.
O futuro pergunta: queremos ser referência em mobilidade limpa ou continuar reféns do transporte poluente?
A resposta está, literalmente, nos trilhos - ou melhor, nos cabos que insistimos em ignorar.
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