
Coluna FALA GALESI !!!

Espaço dedicado ao jornalista e especialista em transportes Marcos Galesi.
Confira aqui seus artigos em defesa do Trólebus Brasileiro.
MTB 0083846/SP
Tecnologia Disponível, Política Cega: a Rede de Trólebus como Caminho Óbvio
19/08/2025
São Paulo possui hoje 192 quilômetros de rede aérea de trólebus instalada, totalmente paga e recém reformada desde 2020. Trata-se de uma infraestrutura moderna, amortizada com dinheiro público, em corredores estratégicos da cidade – mas ainda assim ignorada por quem deveria liderar a eletromobilidade urbana. Enquanto a política insiste em falar em “modernidade”, a engenharia mostra que o maior aliado dos ônibus elétricos já está pronto: a rede de trólebus.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, em 2023 foram registradas 277 ocorrências com a rede aérea. Em 2024, esse número caiu para 173. Ou seja: com um pequeno investimento em tecnologia e manutenção, as falhas estão diminuindo consideravelmente e podem chegar perto de zero com o avanço tecnológico. É o oposto do discurso de que a rede é ultrapassada ou problemática.
Os ônibus elétricos a bateria circulam hoje carregando cerca de 4 toneladas adicionais apenas em baterias, causando maior desgaste no pavimento, elevando o consumo energético e encurtando a vida útil da suspensão e do próprio veículo. Além disso, precisam ficar horas parados na garagem para recarga, o que exige uma infraestrutura elétrica caríssima para cada operador.

Técnicos da WEG, referência em tração elétrica no Brasil, alertam: baterias que são recarregadas várias vezes ao dia com menor profundidade de descarga duram muito mais. É exatamente o que a rede aérea de trólebus pode oferecer: recarga em movimento, menos desgaste das células, e redução da necessidade de baterias tão grandes e pesadas.
Integrar a catenária ao sistema atual com ônibus dual-mode (rede + bateria leve) prolongaria a vida útil dos veículos, reduziria peso, diminuiria o custo de substituição das baterias e tornaria a operação mais eficiente. Países desenvolvidos como Suécia, China e Alemanha já utilizam esse modelo com sucesso, transformando fios suspensos em corredores de carregamento dinâmico.
Mesmo assim, São Paulo escolhe o caminho mais oneroso: comprar ônibus pesados com super baterias, gastar milhões com recarga nas garagens e abandonar a rede pronta sob as avenidas. Essa decisão aumenta a dependência de contratos privados e impede qualquer autonomia tecnológica local.
A incoerência chega a ser grotesca: a prefeitura quer eletrificar a frota o mais rápido possível, mas ignora justamente a infraestrutura que mais poderia ajudar nesse processo. É como comprar um carro elétrico e esquecer o carregador em casa.
A verdadeira modernidade não está em desativar a rede de trólebus, mas em integrá-la de forma inteligente para reduzir bateria, custo e impacto ambiental. Quando a técnica avança mas o político atrapalha, é o povo que paga a conta.
* * * *
O dia em que o trólebus chorou: a despedida de um pioneiro da mobilidade elétrica no Brasil
11/08/2025
No dia 6 de junho de 2025, o sistema de transporte coletivo do Brasil perdeu um de seus mais notáveis engenheiros. O engenheiro Antônio Vicente, um dos grandes responsáveis pela evolução dos trólebus brasileiros e referência incontestável na história da mobilidade elétrica nacional.
Não era apenas um técnico. Era um visionário. E, acima de tudo, um apaixonado pelo que fazia.


Antônio Vicente.
(Acervo Portal "Diário do Transporte").
Antônio Vicente começou sua trajetória no fim da década de 1970, em meio à busca por soluções modernas e sustentáveis para o transporte urbano. Em 1978, liderou o desenvolvimento de um trólebus padron que revolucionou o conceito de conforto, segurança e dignidade ao passageiro. Não era só engenharia - era humanidade traduzida em mobilidade.
Durante 47 anos, ele foi mais do que um profissional: foi uma alma inquieta, que nunca parou de sonhar com um transporte mais limpo, acessível e inteligente. A sua marca está impressa em dezenas de projetos e, principalmente, no coração de quem acredita em um transporte público digno.
Em 1999, durante uma viagem internacional da empresária Beatriz Setti Braga - também visionária - trouxe uma possibilidade do exterior que poderia revolucionar a eletro mobilidade, surgiu uma semente que germinaria com sua ajuda: a criação da Eletra Industrial, empresa brasileira que hoje se destaca como uma das maiores integradoras de tecnologia embarcada em ônibus. Vicente não apenas participou: ele impulsionou essa jornada. Deu forma, motor e propósito.
Em 1999, durante uma viagem internacional da empresária Beatriz Setti Braga - também visionária - trouxe uma possibilidade do exterior que poderia revolucionar a eletro mobilidade, surgiu uma semente que germinaria com sua ajuda: a criação da Eletra Industrial, empresa brasileira que hoje se destaca como uma das maiores integradoras de tecnologia embarcada em ônibus. Vicente não apenas participou: ele impulsionou essa jornada. Deu forma, motor e propósito.
Mesmo depois de sua aposentadoria, nunca deixou de contribuir. Esteve por trás de projetos inovadores como o Elétrico Puro, o Dual Bus (uma solução que combina híbrido, elétrico e trólebus) e, mais recentemente, um veículo com supercapacitor desenvolvido em parceria com a Illuminati Sigma e a Manvel com o saudoso Edson Corbo (in memórian) e Edson Ribeiro - um modelo capaz de se recarregar rapidamente e operar em múltiplas modalidades de tração elétrica.
Com sua partida, uma era se encerra. Mas seu legado permanece - rodando discretamente pelas ruas de São Paulo, sustentando linhas silenciosas que conectam bairros, histórias e esperanças.
E é justamente agora, quando a continuidade do sistema de trólebus parece incerta, que o exemplo de Antônio Vicente grita mais alto. São 76 anos de operação em São Paulo, com benefícios ambientais e tecnológicos inegáveis. O trólebus é mais do que um veículo: é um símbolo de resistência, de sustentabilidade e de visão de futuro.
A cidade que tanto se beneficiou de suas ideias precisa, hoje, fazer jus à sua memória. Se São Paulo quiser mesmo liderar o caminho da descarbonização, precisa olhar com mais respeito para esse sistema que, silenciosamente, ajudou a salvar milhares de vidas do impacto da poluição.
No dia 6 de junho de 2025, o trólebus chorou. Chorou por seu mestre. Chorou por um tempo em que se sonhava alto e se realizava com dignidade. Mas, que essa lágrima seja combustível para reacender um debate urgente e necessário.
Antônio Vicente será homenageado no Seminário TRÓLEBUS: A RESPOSTA CONTEMPORÂNEA PARA O FUTURO DA MOBILIDADE que ocorrerá no dia 14 de agosto de 2025 a partir das 13:30 hs no auditório do SEESP.
O Desmonte Começa pelo Berço: A Primeira Linha de Trólebus de São Paulo Está Sendo Executada
29/07/2025
Há fatos que, por si só, carregam um simbolismo devastador. E quando o desmonte de um sistema de transporte começa justamente por sua linha inaugural, o recado é claro: a memória, a história e o compromisso com o futuro limpo estão sendo sepultados — sem cerimônia e sem vergonha.
A primeira linha de trólebus de São Paulo, implantada em 22 de abril de 1949, ligava o Centro da cidade ao bairro da Aclimação, e não por acaso, tornou-se o marco inicial da eletrificação do transporte coletivo sobre pneus no Brasil. De lá pra cá, o sistema resistiu a trocas de governos, crises econômicas e tentativas de sucateamento — sobreviveu porque era eficiente, silencioso e ecológico. Mas agora, ironicamente, morre pelas mãos do mesmo Estado que deveria defendê-lo.
E mais: morre em silêncio, sem alarde, como se não tivesse importância.
Uma escolha que fere a inteligência do povo.
Desativar os trólebus não é uma decisão técnica, é uma decisão ideológica, econômica de curtíssimo prazo, embalada por discursos modernosos e justificativas vazias. Fala-se em “substituir por ônibus elétricos modernos”, mas omite-se que os trólebus já são elétricos, não poluem, não dependem de baterias caras e poluentes, e que toda a infraestrutura já está paga há décadas.

* * * *
Começar o desmonte pela primeira linha não é coincidência. É um gesto simbólico de desdém pela memória e pela técnica. É como demolir a casa onde nasceu um grande herói nacional para construir um estacionamento. É um apagamento histórico disfarçado de “renovação”.
Não é apenas uma linha, é um pilar
Essa primeira linha é a Coluna de Trajano dos trólebus. Começar por ela é decapitar a identidade de um sistema que fez escola em São Paulo e foi referência para outras cidades do Brasil e do mundo.
Com a saída dos trólebus, o que se perde não é apenas um veículo, mas um conceito urbano de mobilidade limpa, contínua e silenciosa. Perde-se também a memória do Engenheiro Antônio Vicente, pioneiro do setor elétrico, homenageado anualmente por seu legado — o mesmo legado que agora é renegado.
Quem lucra com isso?
A pergunta que não cala: a quem interessa o fim do sistema trólebus?
Certamente não à população que respira um ar cada vez mais saturado. Não aos usuários que dependem de um transporte regular, estável e sem oscilações de preço por causa do diesel. Não aos técnicos que sabem do potencial da rede aérea já instalada. Então... quem ganha? Fabricantes de baterias, operadores de frota com contratos questionáveis ou apenas gestores que preferem cortar fitas a conservar o que funciona?
Resistir é preciso
A história não perdoa os que silenciam diante da injustiça. Começar o desmonte pela primeira linha é um ato de traição simbólica — é como queimar a bandeira de um legado que sobreviveu à fumaça do tempo. Mas ainda há tempo de resistir.
A memória da mobilidade elétrica de São Paulo não será enterrada sem voz, sem luta e sem registro. Estamos aqui, e vamos gritar: trólebus não é passado. Trólebus é futuro com raízes.
VLT no lugar do Trólebus? Uma troca arrependida antes mesmo de acontecer.
29/07/2025
Se o prefeito quer trocar os trólebus por VLT, é bom preparar o discurso pra explicar o retrocesso travestido de modernidade. Em pleno 2025, enterrar um sistema limpo, funcional e consolidado como os trólebus em nome de um VLT que ninguém viu rodar é, no mínimo, um erro político histórico.

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O Desmonte Começa pelo Berço: A Primeira Linha de Trólebus de São Paulo Está Sendo Executada
Há fatos que, por si só, carregam um simbolismo devastador. E quando o desmonte de um sistema de transporte começa justamente por sua linha inaugural, o recado é claro: a memória, a história e o compromisso com o futuro limpo estão sendo sepultados — sem cerimônia e sem vergonha.
A primeira linha de trólebus de São Paulo, implantada em 22 de abril de 1949, ligava o Centro da cidade ao bairro da Aclimação, e não por acaso, tornou-se o marco inicial da eletrificação do transporte coletivo sobre pneus no Brasil. De lá pra cá, o sistema resistiu a trocas de governos, crises econômicas e tentativas de sucateamento — sobreviveu porque era eficiente, silencioso e ecológico. Mas agora, ironicamente, morre pelas mãos do mesmo Estado que deveria defendê-lo.
E mais: morre em silêncio, sem alarde, como se não tivesse importância.
Uma escolha que fere a inteligência do povo
Desativar os trólebus não é uma decisão técnica, é uma decisão ideológica, econômica de curtíssimo prazo, embalada por discursos modernosos e justificativas vazias. Fala-se em “substituir por ônibus elétricos modernos”, mas omite-se que os trólebus já são elétricos, não poluem, não dependem de baterias caras e poluentes, e que toda a infraestrutura já está paga há décadas.
Começar o desmonte pela primeira linha não é coincidência. É um gesto simbólico de desdém pela memória e pela técnica. É como demolir a casa onde nasceu um grande herói nacional para construir um estacionamento. É um apagamento histórico disfarçado de “renovação”.
Não é apenas uma linha, é um pilar
Essa primeira linha é a Coluna de Trajano dos trólebus. Começar por ela é decapitar a identidade de um sistema que fez escola em São Paulo e foi referência para outras cidades do Brasil e do mundo.
Com a saída dos trólebus, o que se perde não é apenas um veículo, mas um conceito urbano de mobilidade limpa, contínua e silenciosa. Perde-se também a memória do Engenheiro Antônio Vicente, pioneiro do setor elétrico, homenageado anualmente por seu legado — o mesmo legado que agora é renegado.
Quem lucra com isso?
A pergunta que não cala: a quem interessa o fim do sistema trólebus?
Certamente não à população que respira um ar cada vez mais saturado. Não aos usuários que dependem de um transporte regular, estável e sem oscilações de preço por causa do diesel. Não aos técnicos que sabem do potencial da rede aérea já instalada. Então... quem ganha? Fabricantes de baterias, operadores de frota com contratos questionáveis ou apenas gestores que preferem cortar fitas a conservar o que funciona?
Resistir é preciso
A história não perdoa os que silenciam diante da injustiça. Começar o desmonte pela primeira linha é um ato de traição simbólica — é como queimar a bandeira de um legado que sobreviveu à fumaça do tempo. Mas ainda há tempo de resistir.
A memória da mobilidade elétrica de São Paulo não será enterrada sem voz, sem luta e sem registro. Estamos aqui, e vamos gritar: trólebus não é passado. Trólebus é futuro com raízes.