Trólebus & Veículos Elétricos Brasileiros:
Artigos & Entrevistas - Entrevista Thiago Silva 25/06/2021
Continuando nossas entrevistas do mês de junho de 2.021 conversamos hoje com Thiago Silva, do Portal "Plamurb".
Confira mais detalhes abaixo:
Thiago Silva na Praça João Mendes em 2.016 no evento de comemoração dos 67 anos do sistema trólébus da cidade de São Paulo/SP.
(Foto: acervo Thiago Silva).
TB: Thiago primeiramente faça sua apresentação pessoal e do seu Portal Plamurb.
TS: Olá, meu nome é Thiago Silva e tenho 36 anos. Sou Técnico em Transporte Rodoviário, Técnico em Transporte Ferroviário e Tecnólogo em Transporte Terrestre, todos pelo Centro Paula Souza.
O portal Plamurb foi criado em 2.017. A proposta era ter um blog de mobilidade urbana voltado para textos de opinião com a abordagem em assuntos, digamos, polêmicos e que muitas vezes são erroneamente divulgados por aí como verdades absolutas. As opiniões, na maioria dos casos, fogem do senso comum e esse é um diferencial do Plamurb.
E por gostar de saneamento básico, decidi abordar esse assunto também, até porque fiz minicursos para me aprofundar no tema.
Primeiramente eu criei uma página no Facebook. Depois de alguns meses, decidi criar um blog da forma como é hoje, até como forma de ter mais flexibilidade e alcance nos textos que escrevo.
TB: Por quê o Trólebus tem lugar de destaque em suas publicações?
TS: Eu gosto de trólebus desde quando era muito pequeno, mas a minha paixão por eles aumentou quando chegaram os veículos novos no ano de 1.997 na linha 107P – Mandaqui, que era a que mais usava por morar nesse bairro. A partir de então, decidi pesquisar tudo o que envolvia trólebus.
Lembro que no ano de 1.998 ou 1.999, eu fui com minha mãe e com meu saudoso irmão tirar o RG no Poupatempo da Luz. Pegamos o trólebus, e ao descer no local, vi um trólebus de outra empresa. Eu fiquei paralisado. Era um veículo da Eletrobus com destino à Praça Clóvis. A linha era a 2290, que opera até os dias de hoje.
No ano 2.000, decidi fazer uma viagem de final a final na linha 107P, indo do Mandaqui até Pinheiros. Fui com meu irmão e meu vizinho. Foi sensacional. No meio do caminho eu ia anotando os números de linhas de trólebus que eu via. Quando cheguei em Pinheiros, ali no Largo da Batata, identifiquei outras linhas de trólebus, além de conhecer uma outra empresa: a Viação Santo Amaro, cuja linha ia para o Terminal Santo Amaro. Fiquei maravilhado.
Desde então, tudo o que saia de reportagem em jornais a respeito de trólebus, eu ia guardando.
Entretanto, no ano de 2.002, mais precisamente em agosto, quatro linhas de trólebus da zona norte foram desativadas e passaram a operar com ônibus a diesel. Fiquei muito chateado, pois a linha do Mandaqui estava no meio.
No ano seguinte foi a vez de desativarem os trólebus do Corredor 9 de Julho e os que rodavam na Rua Augusta. Eu fiquei desesperado e pensando se ninguém ia fazer algo para barrar aquela gestão da Marta Suplicy.
Lembro que o secretário de transporte da época, o Jilmar Tatto, chegou a fazer declarações absurdas para justificar a retirada dos trólebus, como dizer que o custo era alto e a fiação era feia. Em outra oportunidade teve a ousadia de dizer que o fato de o trólebus não poluir, já não era motivo para mantê-los em circulação, pois os ônibus a gás também não poluíam. Estava claro que a remoção dos trólebus foi uma decisão puramente política e longe de critérios técnicos.
Foi nessa época que comecei a ter acesso a internet. Ficava buscando notícias e pessoas que estavam sendo contra essa desativação do sistema. Conheci o site "Via Trólebus", de propriedade do Renato Lobo, e depois conheci o "Respira São Paulo", do qual passei a fazer parte, de fato, em 2.005. Comecei a ir em todas as reuniões que aconteciam no Memorial do Imigrante, um lugar muito legal. Aprendi muito sobre trólebus com os membros. Um ambiente espetacular.
O Respira sofreu muito para dar visibilidade ao trólebus, mas conseguiram. A paralisação da desativação foi mérito do grupo. A renovação da frota e um novo contrato de manutenção da rede aérea, também foram conquistas do Respira, claro que com um empurrãozinho político, já que os secretários de Transporte e do Verde e Meio Ambiente da gestão Serra/Kassab, Marcelo Branco e Eduardo Jorge, respectivamente, eram favoráveis ao uso desse tipo de veículo.
Acabei saindo do Respira São Paulo em 2.015, porque já não frequentava mais as reuniões por falta de tempo. Entretanto tenho contato com quase todos os membros até hoje, inclusive o Jorge Françozo que, para mim, é como se fosse um mentor. O Jorge, inclusive, me ajudou no meu Trabalho de Graduação da faculdade, que era sobre a proposta de colocar trólebus no futuro Corredor BRT Radial Leste. Sempre que tenho alguma dúvida, não hesito em contatar o Jorge.
Desde a criação do Plamurb tenho dado grande destaque e espaço aos trólebus, justamente para fazer aquilo que é um dos propósitos do blog: rebater falácias que são amplamente divulgadas por aí, como dizer que o trólebus é ultrapassado, obsoleto e que vivem quebrando.
Último dia de operação da linha 2101-Praça Sílvio Romero - ano de 2.008.
(Foto: Thiago Silva).
Trólebus abandonados na Garagem Leopoldina - ano de 2.008
(Foto: Thiago Silva).
TB: O que falta pra que o trólebus se expanda mais numa cidade como São Paulo, como já ocorreu no passado?
TS: Olha, considerando que a desativação parcial se deu por motivações puramente políticas, acredito que uma expansão, na atual situação, só ocorra, também, por questões políticas. E explico a razão: o trólebus é uma tecnologia consolidada, muito bem difundida e com mais de 70 anos de utilização na cidade. Argumentos técnicos para sua ampliação existem aos montes. O poder público sabe dos custos, das limitações, dos benefícios e etc. Os dados estão aí. Porém, o viés político emperra qualquer tentativa de expansão. Muito me espantou que na nova concessão, decidiram incluir a linha 390E (antiga 2340), que liga a Penha até o centro, para operar com trólebus.
Acredito também, que no caso dos trólebus, deveria haver uma licitação separada, com prazos de concessão maiores, permitindo que o empresário enxergue o sistema como vantajoso e com possibilidade de algum retorno. Em uma situação mais extrema, talvez uma reestatização do sistema.
TB: Existe espaço ou a necessidade para os diferentes modais em uma metrópole, como por exemplo o trólebus e o ônibus elétrico a bateria?
TS: Sim, sem dúvidas. Há espaço para todas as tecnologias e todas elas podem conviver, ou seja, uma não exclui a outra. O importante é priorizar tecnologias menos poluidores e reduzir, gradativamente, os combustíveis fósseis.
O custo para isso não é barato, entretanto, teremos um retorno enorme no futuro, com a queda de internações por doenças causadas pela poluição, deixando os leitos hospitalares para outras enfermidades ou tratamentos, por exemplo.
TB: É fato que o trólebus tem um melhor custo-beneficio quando operado em corredores ou vias segregadas. São Paulo teria condições de melhor aproveitar essa tecnologia de forma correta?
TS: Com certeza. Hoje a cidade de São Paulo possui 132 km de corredores exclusivos, mas apenas o Corredor Paes de Barros, que possui menos de 4 km, opera com trólebus. No passado, esse número era muito maior, pois os trólebus rodavam em corredores como o 9 de Julho e Rio Branco, que juntos, somavam quase 30 km. Curiosamente eles foram removidos, justamente, dos locais onde operavam muito bem.
Ou seja, implantar os trólebus em todos os corredores de São Paulo não seria algo difícil e nem tanto custoso, até porque, uma mesma infraestrutura seria usada por mais de uma linha, como o próprio Corredor 9 de Julho que, em seu auge, chegou a operar 4 ou 5 linhas. O mesmo para o Corredor Rio Branco, onde operavam 3 linhas.
Primeiro dia de operação da nova linha de trolebus 2290-41, que atendia o Terminal Princesa Isabel - ano de 2.009.
(Foto: Thiago Silva).
Trólebus Neobus no Pátio da avenida Guido Caloi - ano de 2.009.
(Foto: Thiago Silva).
TB: O que falta para São Paulo resolver de uma vez por todas o problema da mobilidade urbana?
TS: Resolver de verdade, não vai (risos). Mas dá para se avançar muito. É preciso, primeiramente, pensar no sistema de transporte público como um serviço essencial e não como produto de prateleira. O que eu quero dizer com isso? que em nenhum lugar do mundo o transporte público se sustenta apenas com o dinheiro da tarifa paga pelo passageiro. Por esta razão é importante desagregar a tarifa da manutenção do serviço e pensar em novas fontes ou formas de financiamento, para não acontecer o mesmo que vem acontecendo com muitas empresas por conta da pandemia.
Além disso é preciso tornar o transporte atrativo e barato. E como fazer isso? Com mais estruturas adequadas para ônibus (corredores, faixas exclusivas e terminais), mais linhas metroferroviárias, mais investimento na mobilidade ativa (bicicletas e calçadas) e, principalmente, reduzir o espaço dos carros particulares nas ruas.
Claro que reduzir o espaço dos carros é um “suicídio eleitoral”, mas se queremos melhorar a mobilidade urbana, é preciso correr esse risco. O último prefeito que tentou isso (Fernando Haddad), ainda que de forma incompleta, pagou um preço caro e perdeu a reeleição para seu oponente em primeiro turno no ano de 2.016. Mas as boas políticas de mobilidade ficaram, como a Avenida Paulista aberta, as faixas exclusivas e as ciclovias/ciclofaixas. Infelizmente ele errou a extinguir o Ecofrota, mas pelo menos não mexeu com os trólebus.
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