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Trólebus & Veículos Elétricos Brasileiros:
Artigos & Entrevistas - Entrevista Marcos Galesi
 22/03/2022


 

Hoje o site "Trólebus Brasileiros" tem a honra de entrevistar Marcos Galesi, forte atuante na defesa dos trólebus paulistanos .

Confira mais detalhes da entrevista abaixo:

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(Marcos Galesi - acervo pessoal).

TB: Galesi em primeiro lugar faça sua apresentação e nos conte um pouco de onde veio seu interesse em transportes.

 

Galesi: Saudações meu caro amigo Marco, tudo bom? Saudações a todo pessoal do "Trólebus Brasileiros". Eu me sinto honrado de estar aqui com vocês.

O meu despertar para o transporte vamos dizer que desde cedo: tive um padrinho que trabalhou na CMTC na Garagem Catumbi, e desde aquela época sempre gostei especialmente dos trólebus. Cheguei a ver a construção da rede aérea dos trólebus chegando até a Penha; tive a honra de ver eles chegarem até o Terminal Carrão (no qual meu pai me levou pra conhecer), Terminal Penha, Vila Prudente. Eles saiam da avenida exterior no Parque D. Pedro.

 

Na mesma época a tarifa dos trólebus era mais barata que a dos ônibus diesel. Por exemplo: a do ônibus diesel era 15 Cruzeiros enquanto que a do trólebus custava 13 Cruzeiros.

 

Cheguei a ver a construção de toda a rede aérea desses trechos e quando eu vi aqueles ônibus correndo as alavancas nos fios, deslizando seus patins, meu interesse aumentou ainda mais.

 

Gostava muito de andar na linha Penha-Parque Dom Pedro (antiga e saudosa 2340), onde conheci e fiz muitos amigos - era uma via memorável. E foi a partir daí que nasceu o meu interesse pelos transportes.

 

TB: Especificamente dos trólebus como surgiu e por quê o interesse nesses veículos?

Galesi: O que me chamava mais atenção foi quando minha mãe me levava pra Pinheiros. Antigamente os trólebus iam até o largo do São José do Belém e depois houve a expansão até a Penha - a qual assisti - chegando até a Vila Prudente e Terminal Carrão. Vimos os trólebus chegarem aos quatro cantos de São Paulo, o que foi muito bacana. Uma outra época ótima foi quando o prefeito Olavo Setúbal implantou o projeto Sistran, que envolvia inclusive o corredor ABD.

 

Foi uma época dourada, ótima para a expansão dos trólebus. Podemos dizer que foi a melhor época dos trólebus em São Paulo.

TB: Você participou do Respira São Paulo? Como foi isso?

 

Galesi: Então, nos anos 80 vimos toda aquela evolução dos trólebus; já nos anos 90 houve uma expansão tímida, até que o projeto Fura Fila trouxe muito entusiasmo.

 

Mas a pior decadência foi a partir de 2001 em que a Prefeitura decidiu trocar os trólebus da Garagem Brás: mal sabíamos que isso seria o começo da desativação dos mesmos. E isso foi muito triste, foi muito chocante. Daí eu comecei a estudar mais sobre os trólebus: lendo artigos do engenheiro Adriano Branco, do urbanista Ayrton Camargo & Silva, e muitos outros fatos interessantes que levaram a me apaixonar ainda mais pelo sistema trólebus.

Quando vi a "Marta" começando a desativar o sistema comecei a procurar outras pessoas que pensassem assim como eu, que não admitiam o descaso do poder público, de estar desativando um transporte silencioso, limpo.

 

Então a primeira pessoa que eu vi e conversei sobre o assunto foi o meu querido amigo Renato Lobo: foi a primeira pessoa que me trouxe ainda mais pra dentro do mundo dos trólebus e através dele eu conheci o lendário Jorge Françozo de Moraes. A partir daí nasceu uma ideia: a ideia chamava-se Movimento Respira São Paulo. E a partir daí nós começamos várias ações: eu comecei a procurar redes de jornais e de televisão, na época quando o híbrido começou a andar nas ruas, eu fui uma das primeiras pessoas a dar entrevista pro Fala Brasil na época, na qual eu falei: "olha, os ônibus híbridos ainda poluem, seria interessante que se mantessem os trólebus". Só que na época a desativação chegou num grau que eles já estavam começando a tirar as redes.

E eu acompanhei a rede do Mandaqui sendo desmontada, a rede do Parque Peruche também - redes históricas que a Prefeitura não respeitou. Mesmo entrando uma nova administração o pessoal não segurou e leilões foram feitos. E até eu falei assim, olha segurem os trólebus de portas à esquerda para colocarmos na linha da Casa Verde, e até isso a Prefeitura deu as costas. Tanto que desmontaram a rede lá da Casa Verde. Então foi muito triste essa época. Santo Amaro foi a primeira rede que poderia ter dado certo por ser corredor e houve aquele desmonte. Aí depois a Zona Norte. Só mantendo da Casa Verde até 2011/2012 e depois decidiram retirar. Ficou o trecho da Praça Princesa Isabel: como a linha não tinha demanda da Vila Formosa até a Praça Princesa Isabel, tiraram a rede também. Fizeram uma limpeza lá no centro de São Paulo, que tinham maravilhosa redes, que iam pro Parque Peruche, pra Rua São Caetano, onde foi testado o trólebus de corrente alternada pela Faculdade de Ilha Solteira, inclusive esse trólebus está lá na faculdade.

 

Tempos depois em 2006 eu, o Jorge Françoso e o Rafael Asquini fomos lá na prefeitura solicitar ao presidente da SP Trans incluir a licitação de 210 novos trólebus, que pela graça de Deus foi acatada.

 

Na época também tive a ideia de fazer um passeio de Trólebus no Centro Velho, nos pontos turísticos principais. E aí nasceu o passeio do 25 de janeiro: eu desenhei toda a ideia, o Jorge Françoso refez todo o texto e a Prefeitura abraçou -  por quase dez anos nós tivemos esse passeio de Trólebus - pra fazer parte das comemorações do aniversário de São Paulo. E foi uma pena não continuarem. Foi muito emocionante ver o 3093 rodando pelo centro de São Paulo e também o 7213 da Metra. Infelizmente disputas internas entre empresas envolvidas fez-se perder todo o sentido e a realização do evento.

TB: Fale um pouco do Defesa do Trólebus Oficial.

Galesi: Então meu amigo Marco, o Respira São Paulo é um grupo que eu posso dizer de "bastidores" enquanto que o Defesa do Trólebus Oficial eu comparo a um "atacante". O Respira tem uma atuação apolítica, diplomática; já o Defesa tem uma vocação política.

 

Então nós partimos pra política porque tudo tem que se ter política. Por exemplo: muitos documentos, eu que entregava na época pra Prefeitos, pro Secretário de Transporte, Presidente da SP Trans... Claro que isso me abriu muitos caminhos, muitas possibilidades, e eu sou muito grato ao Respira São Paulo, embora eu posso afirmar que nunca saí do Respira São Paulo. Apenas eu abri o Defesa do Trólebus pra uma forma mais política, mais de ataque: não pra difamar ao poder público mas pra gente partir pras denúncias, de uma forma mais crítica.

 

Então aí que nasceu o Defesa do Trólebus. E ele está aí: pra quem quiser juntar forças aí com a gente, pra gente continuar partindo pra cima, Então o Defesa do Trólebus ainda continua como um movimento, porém hoje mais de caráter informativo.

TB: Galesi você trabalhou na Eletra? Como foi essa experiência?

Galesi: Em 2011/2012 a Eletra estava começando a fabricar os Trólebus da Ambiental. Nessa época inclusive eu era casado e acabei ficando viúvo. Foi quando o pessoal da Eletra me chamou pra trabalhar: eu posso dizer que com orgulho eu fiz parte da construção e integração do sistema elétrico desses trólebus. Participei ativamente na integração dos trólebus de quinze metros, que aliás foi uma inovação muito bacana esses trólebus. E eu espero sinceramente que não seja a última geração de trólebus.

 

Foi muito interessante essa experiência: trabalhei na área de almoxarifado e foi uma experiência inesquecível. Me senti muito em casa ao participar dessa integração dos trólebus. Inclusive até os adesivos da Eletra eu fui na garagem Tatuapé e adesivei quase todos os trólebus que tinham lá; eu fiz esse serviço de madrugada com todo amor, com todo carinho e todos esses anos de adesivagem da Eletra foi de minha responsabilidade. Então pra mim foi totalmente emocionante esse momento. Eu não poderia deixar de contar esse momento.

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Foto histórica: aqui se iniciam 2 grupos: o "Respira São Paulo" fundado por Jorge Françoso em 2004 e o "Defesa do Trólebus" por Marcos Galesi em 2005.

(https://www.facebook.com/dtodefesadotrolebusoficial/photos/657334401101649/).

TB: Como você vê o futuro dos trólebus em São Paulo nos próximos anos? Qual a importância desse meio de transporte para a cidade?

 

Galesi: Então Marco, com relação ao futuro do trólebus no Estado de São Paulo eu vou ser bem sincero, bem sincero mesmo: a gente não tem muito boa perspectiva. Por causa da política: a política infelizmente de alguns diretores da São Paulo Transporte é desativar o trólebus. Ninguém fala de expansão.

 

Com relação aos ônibus elétricos que estão nascendo, essa geração de ônibus elétricos que também polui, porque ninguém sabe o que vão fazer com as baterias. Então com essa geração de ônibus elétricos que está por vir eu vou te falar justamente o que vai acontecer: eles vão querer substituir os trólebus por esses ônibus. Inclusive tem um que foi fabricado na Caio, o CaetanoBus que está em testes na Ambiental. Caso aprovado esses novos ônibus serão para substituir no mínimo 50 trólebus logo de cara, conforme informações que recebi.

Então é por isso que eu falo: não vejo uma perspectiva boa porque a "cabecinha" do poder é tão pequena que a primeira coisa que eles querem acabar é com  o  trólebus.  Acabar  com  os  diesel eles não falam: essa é a mentalidade do do poder público.

 

​​​Hoje estão testando vários tipos de ônibus elétricos: Higer, BYD, Mercedes, Caetano. Nós temos também hoje cerca de 20 veículos BYD que estão rodando na Transwolf.

 

​Eu gostaria de falar pra você, poxa, nós temos uma ótima perspectiva, mas infelizmente a mente do brasileiro não é pra ser conservadora, não é pra ter o que temos de belo. Não: infelizmente temos a cultura da substituição. Embora a gente sabe que o trólebus é uma tecnologia já consolidada e a única coisa que eles colocam na mesa são os custos, mas eles não tocam em nenhum assunto sobre benefícios. Incrível como é a cabeça do poder público da cidade de São Paulo.

Têm países na Europa que estão reinstalando redes novas de trólebus, como na Itália por exemplo. Pra falar a verdade não era nem pra ter acabado com os bondes de São Paulo: a solução do transporte da cidade de São Paulo já estava implantada desde 1960. O problema é que o poder público, por causa de pessoas que se dizem revolucionários -  que na verdade de revolução não tem nada  - são meras imediatistas que destróem o que muitos construíram. Acabaram por exemplo com o Trem de Campinas, e hoje falam em reinstalar o mesmo. O Trólebus pode ver que está em terceiro plano do poder público: a verdade é essa.

 

Mas eu espero que esteja enganado. Já que a esperança é a última que morre eu espero que o poder público reveja e possa investir no trólebus. Acho difícil, mas deveria.

Eu queria aproveitar e agradecer essa oportunidade, agradecer a lembrança que vocês tiveram de mim, que continuo atuando ainda que de forma um pouco mais tímida. Mas existem pessoas atuando muito bem: o Fábio Klein por exemplo é uma pessoa que pode-se dizer que foi um discípulo meu, mas que está atuando bem dentro da área de transporte.

 

Eu estou atuando na área de transporte hoje fazendo várias exposições, principalmente de miniaturas. Através delas eu conto a história da cidade de São Paulo. Olha só que coisa interessante: se a CMTC ainda existisse eu vou mostrar nas fotos logo abaixo como que seriam os trólebus.


Meu amigo Marco, um grande abraço. Deus te abençoe e estou à disposição.

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Como seriam os trólebus paulistanos de hoje se a CMTC ainda existisse: miniatura de um moderno trólebus com a pintura "trovão azul" da CMTC.

(Acervo Marcos Galesi).

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Como seriam os trólebus paulistanos de hoje se a CMTC ainda existisse: miniatura de um moderno trólebus com a pintura estilo londrina, adotada na gestão do prefeito Jânio Quadros.

(Acervo Marcos Galesi).

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Miniatura do trólebus Ciferal Amazonas da CMTC: época do ambicioso projeto Sistran - pintura padráo EBTU.

(Acervo Marcos Galesi).

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Como seriam os trólebus paulistanos de hoje se a CMTC ainda existisse: miniatura de um moderno trólebus com a pintura "trovão azul" da CMTC.

(Acervo Marcos Galesi).

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Como seriam os trólebus paulistanos de hoje se a CMTC ainda existisse: miniatura de um moderno trólebus com a pintura estilo londrina, adotada na gestão do prefeito Jânio Quadros.

(Acervo Marcos Galesi).

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Miniatura do trólebus Cobrasma com pintura da época da Companhia do Metropolitano de São Paulo - corredor ABD Paulista.

(Acervo Marcos Galesi).

 

Links relacionados:

- Movimento "Defesa do Trólebus Oficial":

https://www.facebook.com/dtodefesadotrolebusoficial/

- Blog "Nosso Transporte Público:

https://nossotransportepublico.wordpress.com/

- Programa "Fala Galesi" pela Rádio Conexão Católica: Marcos Galesi e convidados debatem os principais fatos e notícias em destaque - às sextas feiras a partir das 16:00 hs:

https://www.youtube.com/radioconexaocatolica

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