Trólebus & Veículos Elétricos Brasileiros:
Artigos & Entrevistas - Artigo Marcos Galesi 28/05/2025
"O Trólebus em São Paulo: Sustentabilidade Ignorada na Maior Metrópole do Brasil"
Por Marcos Galesi – Para o site Trólebus Brasileiros
Em um mundo que corre contra o tempo para frear os impactos das mudanças climáticas, repensar os meios de transporte deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade urgente. No entanto, na maior cidade da América Latina, o sistema de trólebus — transporte coletivo 100% elétrico, isento de poluentes locais e silencioso — é, há décadas, vítima de uma política de abandono, descaso e desinformação.
Enquanto cidades na Europa, Ásia e América Latina modernizam e expandem suas redes de trólebus, São Paulo parece remar na contramão da história. O que deveria ser motivo de orgulho e exemplo de transporte sustentável tornou-se, na visão popular, sinônimo de problemas. Não por culpa do modal, mas sim pela negligência histórica dos sucessivos gestores públicos.
📉 A Visão Popular: Rede Que Cai, Sistema Quebreado e Falta de Manutenção.
Quem anda pelas regiões atendidas pelo trólebus em São Paulo já ouviu — ou até disse — frases como:
“A rede caiu de novo.”
“O trólebus travou tudo.”
“Quando quebra, atrapalha a avenida inteira.”
E não é difícil entender por quê. A rede aérea que alimenta os trólebus sofre há décadas com falta de manutenção preventiva. O desgaste dos suspensórios (cabos que sustentam a rede), cruzamentos de fios danificados e peças que deveriam ter sido substituídas há anos tornam as panes e quedas de rede recorrentes. Esses episódios geram uma percepção distorcida na sociedade, que associa o problema ao veículo, quando, na verdade, o problema está na gestão da infraestrutura.
🚧 Sucateamento Não é Acaso. É Escolha.
O abandono do sistema de trólebus não é fruto do acaso, mas de uma série de decisões políticas e administrativas tomadas ao longo dos anos. Entre as décadas de 1980 e 2000, várias linhas foram desativadas, e a malha de trólebus — que já foi muito mais extensa, chegando a bairros distantes — hoje sobrevive restrita a alguns corredores.
Enquanto isso, cidades como Quito (Equador), Milão (Itália), Zurique (Suíça), Lyon (França) e Vancouver (Canadá) investem pesado em redes modernas de trólebus, com fiação inteligente, veículos de última geração com baterias para operação híbrida (em trechos sem rede) e sistemas integrados de mobilidade elétrica.
🌍 O Mundo Avança. São Paulo Regride.
O contraste é gritante. Milão, por exemplo, não só manteve, como modernizou seu sistema de trólebus, utilizando veículos articulados, silenciosos, com ar-condicionado, acessibilidade total e design moderno. Zurique opera trólebus com baterias de longa duração, que conseguem circular quilômetros sem contato com a rede aérea, garantindo flexibilidade e menos interferências no espaço urbano.
E em São Paulo? A frota de trólebus, embora moderna nos veículos, circula sob uma rede aérea que, em muitos trechos, não recebeu os investimentos necessários para acompanhar a evolução. Resultado: quedas de rede, interrupções constantes e uma falsa percepção de que o trólebus “não funciona mais”.
💡 Por Que Desprezar um Transporte Limpo, Eficiente e Silencioso?
É uma pergunta que não quer calar:
Por que São Paulo, uma cidade que se diz preocupada com sustentabilidade, permite o sucateamento de um dos meios de transporte mais ecológicos que possui?
Não há resposta técnica que justifique. O trólebus não polui, não gera ruído, tem eficiência energética superior ao ônibus diesel, elétrico puro ou a gás e oferece uma operação suave, confortável e de baixíssimo custo ambiental.
Se falta visão, sobra exemplo mundo afora. Bogotá, na Colômbia, estuda a reintrodução de trólebus. Guadalajara, no México, manteve sua rede. Praga, na República Tcheca, voltou a instalar fiação e expandir linhas. A União Europeia incentiva financeiramente projetos de eletrificação do transporte — e o trólebus faz parte desse pacote.
🔥 Desinformação: O Maior Inimigo do Trólebus
A desinformação também é um dos maiores inimigos desse modal. Quando a rede cai, culpa-se o trólebus, não quem deveria mantê-la. Quando um ônibus diesel quebra no meio da avenida, é visto como uma falha isolada. Quando é um trólebus, vira argumento contra toda a tecnologia. Isso é fruto de décadas de negligência no debate público sobre transporte sustentável.
🚀 Tecnologia Existe. Falta Vontade Política.
Hoje, há tecnologia para que os trólebus operem com mais eficiência e até com menos dependência da rede aérea contínua. Veículos com baterias podem rodar longos trechos sem contato com os fios, permitindo ampliar linhas e reduzir interferências urbanas. Além disso, redes aéreas modernas possuem sistemas de tensionamento automático, cruzamentos inteligentes e materiais mais leves e duráveis.
São Paulo, que se orgulha de ter o maior sistema de ônibus elétricos do Hemisfério Sul, deveria liderar esse processo. Mas, em vez disso, convive com debates sobre desativação de linhas, fechamento de redes e priorização de modais que, embora mais modernos na aparência, continuam a queimar combustível fóssil.
📢 Conclusão: O Futuro Precisa Ser Eletrificado — e o Trólebus Faz Parte Dele
O caminho para cidades mais limpas, eficientes e sustentáveis passa, necessariamente, pela eletrificação do transporte público. E o trólebus é parte fundamental desse futuro.
Manter, modernizar e expandir esse sistema não é apenas uma questão de mobilidade, mas um compromisso com o meio ambiente, a saúde pública e a qualidade de vida.
Desprezar o trólebus não é apenas um erro técnico. É uma escolha que contraria tudo o que se prega sobre desenvolvimento sustentável.
O futuro pergunta: queremos ser referência em mobilidade limpa ou continuar reféns do transporte poluente?
A resposta está, literalmente, nos trilhos — ou melhor, nos cabos que insistimos em ignorar.